Alta assessora do ditador sírio, Bashar Assad, Bouthaina Shaaban teve um encontro informal no fim de novembro com o vice-presidente Michel Temer em São Paulo.
Segundo fontes do governo brasileiro, Shaaban –a quem já havia sido negado um pedido para se encontrar com a presidente Dilma Rousseff em março deste ano– não chegou a solicitar reuniões oficiais com membros do governo. Nem foi a Brasília.
O encontro teria ocorrido durante uma recepção feita por um pequeno grupo da comunidade árabe em São Paulo –da qual Temer, descendente de libaneses, é próximo.
“Não foi nada especial, nada oficial”, disse Temer ontem, em Brasília. Segundo ele, a reunião foi “de natureza privada”. “Ela simplesmente dizia que eles querem fazer eleições lá na Síria, (…) com a supervisão da ONU.”
“Mas essa matéria já foi levada ao mediador [das Nações Unidas] e não houve ajustamento entre a oposição e o governo sírio”, completou.
Fontes diplomáticas revelaram à Folha que, em março, quando Shaaban não foi recebida por Dilma, a presidente já considerava que o governo Assad “tinha mais culpa” pelo banho de sangue do que os rebeldes.
Em setembro, o vice-chanceler sírio, Faisal al Miqdad, também tentou se reunir com o chanceler Antonio Patriota em Nova York, mas sem sucesso. A justificativa, desta vez, foi questão de agenda.
O Itamaraty diz que mantém os canais abertos com o governo sírio, por meio de seu embaixador no Brasil, Mohammed Khaddour.
As mesmas fontes, porém, dizem que o regime já “sentiu que houve uma mudança” de posição do Brasil. Nos últimos meses, o país apoiou resoluções condenando a violência na Síria nos fóruns da ONU em Genebra e em Nova York.
Enquanto a assessora veio ao Brasil, Al Miqdad esteve no Equador, na Venezuela e em Cuba para sondar a possibilidade de receber asilo, segundo o “Haaretz”.
Em entrevista à Folha, o presidente do Equador, Rafael Correa, confirmou a visita, mas negou que ele tenha pedido asilo. No Brasil, Shaaban teria sondado empresários sobre a recepção de altos membros do regime aqui.